quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Elas conseguem prever a chuva!


O homem, no decorrer de sua evolução histórica, já inventou diversas maneiras de prever o tempo. No Ceará, por exemplo, existem os magníficos "profetas da chuva" que fazem anualmente a leitura de diversos elementos da natureza e dão a sua opinião sobre a previsão anual do inverno.

Por mais curioso que isso possa parecer, é algo levado muito a sério na região.  Pra saber mais leiam: (http://g1.globo.com/ceara/noticia/2012/01/profetas-da-chuva-do-ce-preveem-bom-ano-para-agricultura-no-nordeste.html).

Certa vez, há alguns anos, durante as minhas andanças pelo sertão, fui surpreendido por uma lição de um senhor quase centenário que criava jandaíras na região conhecida como Pau Branco, zona rural de Mossoró-RN.

O senhor, com a humildade peculiar do sertanejo, se aproximou e falou assim:
-Oh meu filho, você sabia que essas abelhas sabem quando vai chover?

De maneira sempre respeitosa, escutei, mas continuei descrente. Fiquei, porém, com aquela história na cabeça durante muito tempo.


Não é de hoje que o conhecimento popular muitas vezes surpreende o científico. Pouco tempo depois,  um meliponicultor de São Paulo me relatava que o renomando Prof. Paulo Nogueira Neto afirmava que a Jandaíra era uma abelha mágica, exatamente por conseguir prever com bastante certeza a data exata que as chuvas se iniciavam.

 
 Na hora me veio à mente a frase do velho sertanejo da região de Pau Branco. Foi como se uma ficha tivesse caído. Desse dia em diante passei a analisar com bastante atenção o comportamento da Jandaíra nas vésperas dos período de chuva no sertão.


Ainda nos meses de dezembro e janeiro de cada ano percebe-se um certo alvoroço nas colônias, as rainhas passam a correr pelos curtiços como se estivessem convocando as tropas para uma batalha. Quem estuda esses insetos diariamente percebe claramente um aumento significativo na postura aos primeiros sinais de aumento na umidade relativa do ar.



Nessa época é muito comum o aparecimento dos primeiros aglomerados de machos nos beirais de casa e nas proximidades do meliponário. Um típico sinal que os forobodos, termo usado inicialmente pelo saudoso Padre Huberto, que indica o processo de aglomeração de machos à espera de princesas, vão começar.



Outro sinal muito forte de aumento dos trabalhos é a presença de adornos e enfeites na entrada das colônias. A impressão que tenho é que as meninas fazem um embelezamento nas suas casas, assim como os humanos fazem durante os períodos festivos do natal e ano novo.


Agora, o mais interessante de se observar é como as operárias iniciam o processo de levantamentos dos potes de mel mesmo sem a presença de nenhum alimento aparente na mata. Isso tem uma explicação lógica: como na caatinga a floração é muito rápida, as Jandaíras estão naturalmente adaptadas a esperar por uma rápida explosão de flores.


É de se admirar o trabalho de providência e previdência com que essas abelhas se pregam. Basta cair as primeiras chuvas que os potes de mel e pólen são completados, nos mostrando a riqueza da flora do sertão. Não vai demorar muito e logo veremos as primeiras colheitas de um ano que aparentemente será de boa produção até o final de agosto.

Mossoró-RN, em 09 de fevereiro de 2012.

Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão 

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