domingo, 20 de março de 2011

Revendo dois Grandes Amigos


Essa semana não me aguentava mais de ansiedade à espera da chegada de dois grandes amigos e meliponicultores. Estou falando do casal Francisco Chagas e Dona Selma, os dois maiores criadores de abelhas sem ferrão do Brasil.

Quando digo que são os dois maiores não é força de expressão, mas pura verdade. O casal é hoje a principal referência na criação racional de uma das abelhas mais adaptáveis do nosso país, a Uruçu Verdadeira (melipona scutellaris).

Sem contar as centenas de outras espécies, Chagas e Selma possuem hoje pelo Estado de Pernambuco 650 matrizes de Uruçu, são 28 meliponários espalhados por Igaraçu-PE e pela Chapada do Araripe, este último local chamado, carinhosamente, pelos dois de "Refúgio das Abelhas sem Ferrão, Paulo Nogueira Neto", uma justa homenagem ao principal pesquisador das abelhas sem ferrão do Brasil.

Para saber mais leiam o relato da Prof. Marilda Cortopassi, realizado em uma de suas várias visitas em maio de 2009 no refúgio feito para as abelhas sem ferrão. (http://www.apacame.org.br/mensagemdoce/103/artigo.htm)


Acompanhado de minha esposa, me dirigi a casa de praia do casal meliponicultor em Tibau-RN, no intuito reencontrá-los. Assim que chegamos fomos recepcionados carinhosamente pelos dois que, sem demora, nos acomodaram na grande roda de amigos e visitantes da casa.

Antes mesmo de sentar avisto um belo exemplar de uma raridade não mais fabricada, um litro de cachaça São Saruê. A São Saruê era fabricada pelo próprio Chagas e chegou a ganhar em 2004 o título de 2ª melhor cachaça do Brasil, ou seja, não é todo dia que se aprecia (com moderação) uma maravilha dessa. ligeiro como uma Jandaíra na flor de malva, passei pra dentro um lapadinha que desceu suavemente.


Colocamos os assuntos em dia, principalmente algumas novidades e avanços do Chagas no manejo com a raríssima melipona quinquefasciata, também conhecida com Uruçu de chão. Essa espécie, além de belíssima, vem se tornando extremamente rara, atualmente só é encontra em certas regiões dos Estado do Ceará e Pernambuco.

Chagas tem mais 20 anos de atividade e é um profundo conhecedor do manejo e da biologia das mais variadas abelhas sem ferrão, é uma biblioteca viva e sempre que posso aprendo com ele alguma novidade.


Depois de apanhar muito com o manejo, Chagas vem conseguindo criar as uruçu de chão em caixas racionais, fato difícil no passado, e com isso mantê-las a salvo da extinção.

O amigo trouxe para mim algumas novas matrizes de Uruçu verdadeira, tinha solicitado da última vez que nos encontramos que trouxessem para mim novas caixas para reforça o meu pequeno meliponário dessa espécie, a final de contas a uruçu não é nativa da caatinga e não se adquiri com facilidade.

Mas a minha surpresa não foi as novas matrizes, foi o presente que ganhei do Chagas, antes de dizer o qual é a espécie (pois é uma abelha) vou contar o que ele aprontou comigo:

-Kalhil, vá vê uma caixa de abelha que trouxe, que espécie é essa???

- (depois de algumas olhadas) Chagas, eu acho que é alguma scaptotrigona, mas não sei se é a espécie que estou pensando ser, me parece uma tubi da Maranhão, por causa dessa bundinha amarelinha, mas não tenho certeza!!!

- Cabra danado esse Kalhil, é uma Tubi do Maranhão mesmo, trouxe uma pra você e outra para o Paulo Menezes. Quando você for no refúgio tem duas rufiventris e duas asilvai pra você lhe esperando (uruçu amarela e rajada).

Puts, eu não podia ter recebido presente melhor nem convite mais tentador. Há tempos eu sonhava com essa abelha, até cheguei a receber uma oriunda da Bahia, mas não tive sucesso com sua criação pois a rainha morreu na viagem.

Lá pelo meio-dia, já feliz pelo presente e pelos consecutivos goles da São Saruê, fomos almoçar. Após a caloroso benção do Padre Apolinário fizemos uma ótima refeição que foi completada pelas saborosas sobremesas. Devo confessar que minha taxa de açúcar deve ter ido as alturas graças as irresistíveis cocadas feitas pela Dona Selma.

Já à noite retornei a casa para pegar as colônias de Uruçu e as Tubis, conversamos mais um pouco e acertei com o casal que dá próxima vez que forem a Serra irei com eles conhecer o refúgio das abelhas, lugar permanente de multiplicação e preservação de abelhas sem ferrão do Brasil.

att,
Mossoró-RN, em 20 de março de 2011.


Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão

Um comentário:

  1. Tive o p´razer de conversar com d. Selma por telefone. Pessoa ótima e muito atenciosa. Agradeço mais uma vez pela cartilha de uruçu, muito bem montada. Que o casal continue com esta dedicação impar com as uruçus !!!!

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