sexta-feira, 21 de agosto de 2009

A destruição da Caatinga e suas abelhas


(visão de vida na caatinga, paraíso ameaçado)

A realidade é triste, mas tem que ser dita.
Mesmo sendo o único bioma exclusivamente brasileiro, a cada dia caatinga vem sendo destruída, sem pena nem piedade, já não vemos mais os grande pé de Juazeiro, de Cumaru, Aroeira, Imburana, Angicos, Catingueira, Baraúna etc. Essas belas árvores estão sendo destruídas e consumidas, diariamente, pelo homem que não percebe que destruindo o seu habitat está destruindo a si mesmo.

(avanço da desertificação pelo desmatamento)

Esse comportamento desenfreado é explicado, o bicho homem é imediatista e ambicioso por natureza, só pensa no lucro rápido e fácil, parece (parece não, tem certeza) imaginar que os danos ambientais por ele produzidos não trarão, num futuro bem próximo, conseguências gravíssimas contra ele mesmo.

(queimadas clandestinas)

A desertificação da região do semi-árido Nordestino caminha a passos largos, Segundo o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, o Nordeste pode perder um terço de sua economia por causa da desertificação e do aumento da temperatura em menos de 20 anos.

(troncos de árvores no pátio de cerâmica)

O principal fator influenciador desse processo é o desmatamento indiscriminado das regiões de mata da caatinga, somente no Estado do Rio Grande do Norte, o polo ceramista potiguar consome mensalmente cerca de 106 mil metros cúbicos de lenha, essa quantidade de madeira é equivalente ao desmatamento de mais 600 campos de futebol por mês.

(madeira sendo queimada em forno de cerâmica)

(transporte ilegal de madeira do sertão)

Juntamente com as belas árvores do sertão, vão embora as abelhas nativas dessa região, sem casa para morar não poderão se multiplicar, na verdade, não poderão nem ao menos sobreviver. Diferentemente da Apis melifera, as rainhas dos meliponíneos (Jandaíra, Uruçu, mandaçaia, moça branca, jati, canudo etc) são fisiogástricas, ou seja, possuem o seu abdomem bem dilatado, o corpo fica mais pesado do que as asas podem suportar, dessa maneira elas passam a não mais voarem quando são fecundadas, ficando assim pressas para sempre na árvore que escolheram para morar.

Essa evolução genética atualmente é um problema, pois quando se destrói uma árvore em que nela habita uma colônia de nativas, estamos também destruindo também as abelhas residentes, pois as abelhas não abandonaram a sua mãe (rainha) por nada, morrerão ali, juntamente com sua casa.

(rainha de fisiogástrica de Jandaíra, após a fecundação não pode mais voar)

Estudos científicos comprovaram que 90% das árvores de lei da amazônia (Mogno, Jatobá, Jacarandá, Ipê, Pau-Brasil, Andiroba etc) só são polinizadas por abelhas nativas daquela região. O mesmo acontece com a Caatinga, somente as abelhas nativas do semi-árido são capazes de polinizar, de forma eficiente, as grandes árvores do Sertão.


Sem as árvores não temos abelhas, sem as abelhas não temos a polinização das árvores e plantações, sem a polinização na haverá frutos nem sementes e sem frutos e sementes não temos alimentos e sem esses últimos não teremos ninguém...

O próprio Albert Eintein, um dos maiores cientistas que mundo já viu já dizia:

Olhem as abelhas, se elas sumirem a humanidade tem um máximo de quatro anos de sobrevida, pois não haverá plantas e nem animais, a polinização é a grande responsável pela produção de alimentos”.

Sem as abelhas muitos alimentos consumidos diariamente seriam inacessíveis à maioria das pessoas, devido ao preço. A escassez afetaria principalmente várias frutas, além das geléias e conservas, amêndoas e até mesmo o leite, pois as vacas leiteiras, em regime de confinamento, exigem uma ração rica em proteína, que depende de polinizadores.

Estima-se que cerca de mais de 100 culturas podem ficar sem polinizadores e a produção em larga escala de certas culturas poderá se tornar inviável. Ainda teríamos milho, trigo, batatas e arroz, mas muitas frutas e legumes que são consumimos rotineiramente como maçãs, pêras, laranjas, mirtilos, brócolis e amêndoas poderão se tornar alimentos de privilegiados.

A verdade é que se essa realidade não mudar a riqueza da biodiversidade da flora e da fauna irão sucumbir diante da ambição desenfreada do bicho homem, bicho esse que é o único animal capaz de destruir seu próprio habita, até hoje eu só vi um ser que tem esse mesmo comportamento, os vírus e bactérias, que destroem seus hospedeiros mesmo sabendo que isso vai levá-los também a sua destruição.

Só espero que não terminemos iguais a eles.

att,

Mossoró-RN, 21 de agosto de 2009.


Kalhil Pereira França
Meliponario do Sertão
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Anônimo disse...

Olá Kalhil, realmente esta realidade é cruel e já constatei em meu estado tbm. Pilhas de lenha "colhida" da caatinga à beira das estradas; queimadas sem fim, e sabemos que nessa lenha colhida vão-se muitas moradas de abelhas nativas, e a Jandaíra se encontra em via de extinção com a desertificação.
Julho agora passei por sua cidade e fui até Natal de carro, e me surpreendi com a vastidão da caatinga nessa estrada, em que de uma lado e de outro era uma imensidão de mata intocada.

21 de Agosto de 2009 22:11


A região de Mossoró ainda possui áreas de caatinga bem preservadas, ainda é possível encontrar as Jandaíras e outras abelhas na natureza por aqui, mas não se engane, por aqui também existem grandes clarões de mata aberta, mas basta você se afastar um pouco que o início da destruição começa, principalmente próximo ao entorno do polo ceramista da vale do Assu-RN, lá sim a caatinga é destruída e bem observada por quem passa as margens da BR.

Kalhil Pereira


Um comentário:

  1. Olá Kalhil, realmente esta realidade é cruel e já constatei em meu estado tbm. Pilhas de lenha "colhida" da caatinga à beira das estradas; queimadas sem fim, e sabemos que nessa lenha colhida vão-se muitas moradas de abelhas nativas, e a Jandaíra se encontra em via de extinção com a desertificação.
    Julho agora passei por sua cidade e fui até Natal de carro, e me surpreendi com a vastidão da caatinga nessa estrada, em que de uma lado e de outro era uma imensidão de mata intocada.

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